
A última interação de Sebastião Salgado com o público nas redes sociais foi um agradecimento. O fotógrafo brasileiro — que morreu nesta sexta-feira, aos 81 anos — compartilhou seu último vídeo na conta no Instagram em 27 de fevereiro. Na ocasião, agradeceu à Escola de Samba Boa Vista, de Cariacica, Espírito Santo, por homenageá-lo em seu samba-enredo de 2025. A escola venceu o desfile das escolas de samba do Espírito Santo deste ano, sediado em Vitória.
"Venho agradecer uma homenagem maravilhosa que eu recebi da Escola de Samba Boa Vista, de Cariacica, no Carnaval de Vitória", diz Salgado no vídeo. "Foi uma homenagem sublime, pura, uma homenagem ligada ao povo do Espírito Santo, com um samba-enredo maravilhoso, lindo. Agradeço muito."
O fotógrafo destacou em seu agradecimento a participação de uma ala formada por membros do Movimento Sem Terra, se dizendo "felicíssimo" com a participação dos ativistas, por quem mostrou iração. "O Movimento Sem Terra é uma das maiores organizações sociais de toda a América Latina, talvez a maior nos últimos 100 anos, e que conseguiu alocar centenas de milhares, se não milhões de famílias tendo uma terra para trabalhar, vivendo de uma forma digna e criando propriedades rurais ecológicas", declarou.
Ele destacou, ainda, a produção de alimentos sem agrotóxicos e o plantio de árvores promovidos pelo movimento. "Talvez o Movimento Sem Terra seja o maior plantador de árvores do Brasil."
"Fiquei felicíssimo. E mais feliz ainda que nós ganhamos o carnaval", continuou. "Olha, agradeço demais a todos os membros da Boa Vista pelo bom gosto, pela simplicidade e pela maneira fenomenal de chegar ao povo. Muito obrigado."
Em nota, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se referiu a Salgado como um dos mais importantes fotógrafos da história contemporânea. "Sua partida é uma perda imensa para a arte, para os direitos humanos e para todos que acreditam na imagem como instrumento de transformação social".
"O fotógrafo manteve uma relação de solidariedade e apoio com o MST, reconhecendo no movimento uma das mais legítimas expressões da luta por justiça social no Brasil", destacou o comunicado. "Que sua memória siga viva em cada imagem, em cada rosto retratado, em cada luta que busca justiça e humanidade."
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Agência da ONU
Para a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o legado de Salgado inspira não apenas a fotografia, mas também o engajamento humanitário e ambiental. Por meio de suas lentes, ele revelou ao mundo os rostos e os percursos daqueles que deixam tudo para trás em busca de proteção e dignidade.
"Em sua obra monumental Êxodos, publicada no ano 2000, Salgado capturou com sensibilidade e genialidade o drama humano de mais de 20 milhões de pessoas em deslocamento forçado, vítimas de guerras, perseguições, pobreza extrema e desastres ambientais — atualmente já são mais de 140 milhões de pessoas nessa condição, com recursos escassos para atender suas demandas mais imediatas", destacou, em nota, a agência.
Em Paris, o ministro da Europa e dos Negócios Estrangeiros da França, Jean-Noël Barrot, lamentou a morte de Salgado, citando um "grande artista franco-brasileiro que acaba de nos deixar", durante discurso de abertura da Semana da América Latina e do Caribe 2025.
"Quero que minhas fotografias contem histórias que façam as pessoas pararem e pensarem mais do que nunca. Sinto que a raça humana é uma só, ele disse", recordou o ministro.
No perfil oficial no X, a Academia de Belas Artes da França também prestou homenagem ao fotógrafo, eleito membro da seção de fotografia da instituição desde abril de 2016. (Com Agência Brasil)
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