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Flores comestíveis: nova aposta da gastronomia e oportunidade aos horticultores

Elas dão um toque de elegância nos pratos, nas bebidas, nas sobremesas, e a tendência é que sejam cada vez mais procuradas e consumidas, trazendo assim, mais uma oportunidade para os produtores (ou iniciantes) nesse novo nicho de mercado

"Flores comestíveis têm despertado interesse de pesquisadores nas diversas áreas do conhecimento" - (crédito: Reprodurção Internet )

WARLEY MARCOS NASCIMENTO, pesquisador da Embrapa Hortaliças e presidente da Associação Brasileira de Horticultura

As flores comestíveis têm sido utilizadas desde a Antiguidade, seja na ornamentação dos diferentes pratos, seja no seu efeito benéfico na saúde, neste caso, como planta medicinal. Nos últimos anos, temos observado, em diversos países, o uso dessas flores comestíveis principalmente na gastronomia, e, aqui, no Brasil, esta "tendência" vem se popularizando a cada dia, principalmente por meio dos chefs ou influenciadores, que, neste caso, usam (e abusam) dessas flores encantadoras, com suas pétalas delicadas, cores vivas e contrastantes, proporcionando, assim, um visual — e claro, um sabor — diferenciado aos diferentes pratos. Soma-se a isso o consumidor mais "antenado", que tem se mostrado mais aberto a experimentar novas receitas, com cores e sabores diferenciados.

Consideradas como novas fontes de nutrientes e compostos bioativos, as flores comestíveis têm despertado interesse de pesquisadores nas diversas áreas do conhecimento. Elas podem ser consumidas tanto frescas, o mais comum, quanto refogadas, fritas, desidratadas, ou congeladas. Acompanham tanto os pratos principais quanto as saladas, mas não param por aí. Podem ser utilizadas ainda na elaboração de doces, geleias, chás, infusões, e em drinks e coquetéis (na preparação dos cubos de gelo ou mesmo dando aquele toque especial à bebida).

Com toda essa variedade de cores, sabores e texturas, podemos consumir qualquer flor? A resposta é não, pois algumas flores podem ser tóxicas, devendo assim, buscar informação daquela flor que pode, ou não, ser consumida. Para o consumidor que busca o produto em feiras, supermercados etc. não há muito do que se preocupar quanto à segurança do alimento, mas para aqueles que queiram produzir para o próprio consumo, aí sim, devem ficar atentos no que pode, ou não, ir ao prato, seja buscando informações nas embalagens de sementes (não tratadas) disponíveis no mercado, seja na literatura disponível. Vale mencionar que o pólen contido nas flores, na maioria das vezes, pode causar algum problema, uma vez que pessoas alérgicas ao pólen podem apresentar reações sensibilizantes de pele e respiração. Assim, recomenda-se a remoção do grão de pólen e anteras antes de utilizar qualquer flor em receitas, até porque, na maioria das vezes, esses componentes têm um sabor desagradável. Ainda, algumas flores comestíveis, quando consumidas em excesso, podem causar algum desconforto.

Sem querer esgotar a lista, citamos algumas dessas espécies, geralmente flores ornamentais, que podem ser consumidas e que estão disponíveis no mercado: alyssum, amor- perfeito, begônia, boca-de-leão, calanchoê, calêndula, cosmos, cravina, gerânio, girassol, hibisco, lavanda, phlox, rosa, tagetes, torênia, verbena, violeta, zinnia, entre outras. Flores de algumas hortaliças, como abóboras e abobrinhas, mais conhecidas pela população, podem ser utilizadas, fritas ou refogadas, bem como flores de algumas Plantas Alimentícias não Convencionais (Panc), como bertalha, capuchinha, lírio-do-brejo, ora-pro-nóbis e vinagreira. Em termos didáticos, embora não necessariamente foco deste artigo, incluímos, nesta lista, alguns exemplos de hortaliças, cujo produto comercial são as flores (alcachofra) ou as inflorescências (couve-flor e brócolis).

Geralmente comercializadas em grandes centros consumidores, produtores especializados nesse negócio — sim, existem pequenas empresas atuando exclusivamente neste negócio, empregando, inclusive, práticas e ou tecnologias utilizadas na produção de hortaliças, como cultivo protegido, fertirrigação etc.—, oferecem produtos mais sustentáveis, sem uso de agrotóxicos, os quais são entregues diretamente em restaurantes, ou são comercializados em bandejas de plástico transparente, dispostas em gôndolas refrigeradas, no setor de hortaliças. Esse mix de flores frescas, que enche os nossos olhos, pode conter uma grande diversidade de espécies.

Sem dúvida, as flores comestíveis dão aquele toque de elegância nos pratos, nas bebidas, nas sobremesas, e a tendência é que sejam cada vez mais procuradas e consumidas, trazendo assim, mais uma oportunidade para os produtores (ou iniciantes) nesse novo nicho de mercado. De alto valor agregado, permitem a esses empreendedores, uma ampliação em seus produtos para atender à demanda, ainda que pequena, mas crescente. 

 


Correio Braziliense
postado em 03/03/2025 06:00 / atualizado em 03/03/2025 06:00
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