Papa Francisco

O papa pé-quente no futebol

Francisco gostava de receber jogadores em uma romaria sem fim ao longo dos 12 anos e papado, e gostava de uma resenha

O San Lorenzo é paixão de menino. O pequeno Jorge ficou encantado com a torcida aos 9 anos -  (crédito:  Reprodução/Twitter San Lorenzo de Almagro)
O San Lorenzo é paixão de menino. O pequeno Jorge ficou encantado com a torcida aos 9 anos - (crédito: Reprodução/Twitter San Lorenzo de Almagro)

Jorge Mario Bergoglio era mais do que um apaixonado pelo futebol. Virou pé-quente. A bênção dele operou milagres. Assumiu o Vaticano em 2013. No ano seguinte, o San Lorenzo conquistou a Copa Libertadores da América pela primeira vez ao derrotar o Nacional do Paraguai na final do principal torneio de clubes do continente.

O San Lorenzo é paixão de menino. O pequeno Jorge ficou encantado com a torcida aos 9 anos. O pai jogava basquete no clube, mas levou o filho a uma partida de futebol do Ciclón. Foi a senha para o pequeno virar um "corvo", como são apelidados os torcedores do San Lorenzo.  As cores azul-grená o hipnotizaram e conquistaram definitivamente um jogador frustrado.

"Quando eu era jovem, sempre me colocavam no gol porque eu jogava mal. Diziam que eu tinha os dois pés no mesmo sapato", confessou em um livro publicado em 2022.  

Jorge virou sócio do clube em 12 de março de 2008. Inscrito com o número 88235N — 0. Pagava o boleto religiosamente em dia. Coincidentemente, o papa Francisco morreu aos 88 anos, às 2h35, nos horários de Brasília e de Buenos Aires. Inaugurou a capela do clube e interagiu com crianças da base, ungiu jogadores como Tito Villalba e Ángel Correa, e viu ambos guiarem o time à Glória Eterna.

Na mesma temporada, a Argentina quase ganhou a Copa do Mundo de 2014 dentro do Maracanã. Ungido por Deus no céu, Francisco na terra e Alejandro Sabella no campo, Lionel Messi esteve muito próximo de levar a Argentina ao tricampeonato. A Alemanha, país do antecessor Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI, teve mais fé no gol do tetra de Mario Götze.

Vítima de fake news, Francisco teria assistido à final de 2014 entre Argentina e Alemanha, publicou-se à época. O Vaticano negou. "O papa estava aguardando os resultados do Mundial, mas disse que não assistiria por uma questão de neutralidade. Nós o informávamos o a o. Estamos contentes e seguimos apoiando a seleção", afirmou Guillermo Karcher naquele 13 de julho.

Mesmo assim, o filme Dois Papas, lançado pela Netflix em 2019, mostra Bento XVI e Francisco assistindo à final da Copa do Mundo de 2014 entre Alemanha e Argentina.

O papa é argentino e não desiste nunca. A Argentina encerrou a abstinência de 28 anos sem título da seleção principal, que se arrastava desde 1993, na Copa América de 2021. O gol de Angel Di María na final contra o Brasil, no Maracanã, foi uma espécie de libertação.

Na sequência, o time comandado por Lionel Scaloni ganhou a Finalíssima contra a Itália, em Wembley; venceu o tricampeonato na Copa do Mundo em uma decisão épica contra a França; e revalidou o título na Copa América em 2024, nos Estados Unidos.

A imparcialidade — e a sinceridade — de Francisco se confirmou em 2023. Questionado pela rede de tevê italiana RAI se preferia Maradona ou Messi, o papa agiu com sabedoria salomônica: "Eu coloco um terceiro: Pelé. São os três que eu segui. Maradona, como jogador, foi um grande, um grande. Mas, como homem, falhou", ponderou. "Messi é corretíssimo. Um senhor. Mas, desses três, o grande senhor é Pelé. Um homem de um coração", elogiou.

O papa gostava de receber jogadores em uma romaria sem fim ao longo dos 12 anos e papado, e gostava de uma resenha. "Maradona escorregou na corte daqueles que o bajulavam, mas não o ajudavam. Ele veio me ver aqui, no meu primeiro ano de pontificado. Depois, teve seu fim. É curioso, tantos esportistas acabam mal. Também no boxe, muitos terminam mal. É curioso", salientou, referindo-se ao pugilismo, outra fixação dele.

Antes de assumir o Vaticano, o papa foi expulso do vestiário do San Lorenzo por ordem do então desafeto Alfio Basile. O veterano treinador considerava a presença dele "azar" para o clube. Mais tarde, o treinador pediu perdão ao pontífice pelo desrespeito.

 

  •  Homenagem do San Lorenzo de Almagro ao Papa Francisco, torcedor do time argentino
    Homenagem do San Lorenzo de Almagro ao Papa Francisco, torcedor do time argentino Foto: Reprodução/Twitter San Lorenzo de Almagro
  •  Homenagem do San Lorenzo de Almagro ao Papa Francisco, torcedor do time argentino
    Homenagem do San Lorenzo de Almagro ao Papa Francisco, torcedor do time argentino Foto: Reprodução/Twitter San Lorenzo de Almagro
  •  Homenagem do San Lorenzo de Almagro ao Papa Francisco, torcedor do time argentino
    Homenagem do San Lorenzo de Almagro ao Papa Francisco, torcedor do time argentino Foto: Reprodução/Twitter San Lorenzo de Almagro
MP
postado em 22/04/2025 02:01 / atualizado em 22/04/2025 12:37
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