ENTREVISTA

Conheça os titulares da boa gestão de Marcelo Paz no Fortaleza

Mente por trás da reestruturação do Fortaleza detalha os 11 os para o sucesso no futebol, comenta sobre a vida de palestrante e sobre como ajuda clubes e dirigentes

Marcelo Paz palestrou em Campinas para dirigentes, patrocinadores e treinadores de clubes poliesportivos  -  (crédito: CBC/Divulgação)
Marcelo Paz palestrou em Campinas para dirigentes, patrocinadores e treinadores de clubes poliesportivos - (crédito: CBC/Divulgação)

Campinas (SP) — A trilha de sucessos do Fortaleza oito anos após deixar a Série C do Campeonato Brasileiro é fruto, claro, da equipe que entra em campo, como aquela que ensaiou brigar pelo título, terminou em quarto lugar na Série A do ano ado e se classificou à terceira participação na Libertadores. Porém, talvez você não saiba que existe outro time por trás da consolidação do clube fora do eixo Rio-São Paulo. Ex-presidente do Leão e CEO tricolor desde 2023, Marcelo Paz não abre mão de outros 11 titulares quase não vistos: os da boa gestão.

Marcelo Paz tem uma rotina diferente da maioria dos outros 19 dirigentes da Série A do Brasileirão. Formado em istração de empresas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), não perde nenhum compromisso do Fortaleza, mas espreme a agenda para transmitir conhecimento de mais de uma década de futebol e istração. De CEO ou à palestrante. Inclusive, convidado por grandes clubes do país e candidatos à presidência de instituições esportivas. Paz participou de conferências em Portugal, Estados Unidos e costuma falar sobre o lado humano do esporte mais popular do planeta, como foi na CBC & Clubes Expo — evento com os principais clubes poliesportivos, patrocinadores, fornecedores, federações e confederações.

As palestras do dirigente eleito o melhor CEO do futebol brasileiro no ano ado não têm firulas. Vão direto ao ponto, e de um jeito leve. Paz costuma abrir as conversas com o lado torcedor, apresentando como ele e o filho, hoje de 16, sofreram durante os oito anos de Série C e encerra com ele celebrando o penta cearense ao lado do filho. O Fortaleza é um clube totalmente diferente do encontrado por ele em 2015, quando entrou como diretor de futebol. Os números o respaldam: os 7.500 sócios-torcedores de quando chegou em 2015 saltaram para 42 mil. O faturamento de R$ 24 milhões deve alcançar R$ 374 em 2025. Tudo isso tornou Paz tão requisitado e o levou a "envelopar" as apresentações e torná-las mais profissionais. O vocabulário do mundo da bola facilita a compreensão do pensamento de uma das mentes por trás da evolução do Fortaleza. A seguir, o cartola explica como colabora para a evolução do futebol do país, objetivos do Fortaleza para 2025, criação liga brasileira e polemiza sobre as arenas do Brasil.

Como descobriu essa versão palestrante?

Como tenho uma história a ser contada nesses 10 anos, tenho conteúdo para ar, de gestão, esportivo e humano, que envolve família e filho. Com o sucesso do Fortaleza e as coisas acontecendo, além da minha exposição, comecei a ser demandado para falar. Eu ia às faculdade e aos colégios, até que envelopei isso em algo mais profissional. Tenho sido, sim, requisitado, mas sempre respeitando a agenda profissional de jogos do clube. Nunca faço palestra em dia de jogo, nunca deixo de ir para compromisso do clube por conta de palestra. Faço esse casamento entre as demandas de palestra e os compromissos como CEO do clube.

Costuma falar para outros times?

Já falei para clubes, grupo que queria se lançar a presidente de clube. Não vou citar para não causar qualquer tipo de situação. Tive convites para contar o case, às vezes, não em formato de palestra, mas de petit comité (pequena reunião) de conversar, responder a perguntas. Fiz palestras e eventos em Portugal e em Chicago (EUA) para brasileiros. Não posso fazer essa autoavaliação (de referência), isso quem pode fazer são os outros. Busco fazer o meu melhor, respeitar todos e ter a melhor relação. Não quero me colocar com qualquer título assim, não acho legal.

Por que fala do seu filho nas palestras? Como ele se sente com o Fortaleza em outro patamar?

Precisamos humanizar as relações e o esporte. O futebol embrutece as pessoas, ficam grossas, difíceis, com aquela adrenalina. No caso do futebol masculino, com aquela testosterona, com um brigando com o outro. O futebol tem paixão, família, envolvimento e o dirigente tem essas características. O Marcel, meu filho, acompanhou essa trajetória. Quando entrei, com 31 anos, ele era um garotinho, com seis anos ainda. Ele foi se formando como torcedor de futebol, com o pai dentro do clube, ganhando e perdendo, sofrendo e sorrindo.

Acho que contar essa história através do olhar de uma criança que se tornou adolescente e que hoje tem orgulho do que foi feito, orgulho do time que torce e das coisas que a gente conquistou. É um atleta também, joga basquete, de bom nível. Quer se tornar atleta. Eu digo: só não vai ser dirigente (risos). Essa relação nossa sempre foi muito ligado ao futebol e ao Fortaleza. Quando vou contar essa história, acho legal ar por isso.

Ascensão do Fortaleza

Transformamos o clube antes da SAF. Na verdade, A SAF foi na virada de 2023 para 2024. Estamos no segundo ano de SAF. A nossa SAF é diferente, porque ainda não houve aporte de investidor, não vendemos ações. Mudamos a forma jurídica do clube, amos a estar no modelo empresarial, corporativo, que tem vantagens, mas ainda não recebemos investimento. Não foi a SAF que causou essa virada, foi a gestão.

O crescimento do Fortaleza foi todo orgânico. Como não houve investimento externo, foi com as próprias pernas, crescendo esportivamente, participando de melhores competições, ganhando cotas de direitos de transmissão, a a revelar mais e vender melhor jogadores, a a ter um tíquete médio maior de sócio-torcedor, bilheteria e de produtos licenciados.

Como veio essa virada de chave da gestão?

Tem dois pontos. Primeiro, desde o início a gente entendeu que tinha de trabalhar de forma profissional, escolher pessoas competentes, ter planejamento estratégico, ter metas e objetivos, ser resiliente na hora das dificuldades. No futebol, muitas vezes, na hora que perde, se joga tudo para o alto, voltam-se as práticas antigas, buscam-se atalhos. É manter a profissionalização e envolver o torcedor nisso. O que é envolver? É fazer ele confiar, dar crédito à gestão, ele a a ir ao estádio, a comprar mais camisa, ser sócio-torcedor. Ele a a ser combustível de tudo que o clube proporciona. O envolvimento com a torcida e a profissionalização são os pontos fundamentáveis para qualquer clube que queira fazer algo semelhante.

Criação da liga brasileira

Sou o atual presidente da Liga Forte União. Temos 33 clubes e temos a intenção de criamos a liga unificada de clubes. A Libra tem clubes gigantes. Estamos conversando, sim, nos bastidores, telefones, chamadas de vídeo. Existe uma real intenção de criarmos uma entidade única. Sei que teve notícia sobre 2027. Não tem prazo ainda. Pode ser que em 2027. Acho difícil para antes. Mas existe o desejo real dos clubes de dar esse o, de unificar. Entendemos que unificados ficamos muito mais fortes. É o que se faz em outros lugares do mundo. Não estamos inventando a roda. Temos potencial. Está caminhando para isso.

Os obstáculos foram bem superados, como a questão de dividir o dinheiro. Como os dois blocos venderam os direitos comerciais pelos próximos cinco anos, não há a discussão do dinheiro agora. A discussão é operacional, corporativa, é fair play financeiro, gestão. Isso facilita muito mais. Até no financeiro estamos dando o uníssono. Estamos em um bom momento para que isso possa avançar.

E as expectativas para 2025?

O torcedor sonha com um título maior. Temos três Copas do Nordeste, pentacampeonato estadual, final de Sul-Americana perdida nos pênaltis. Seria esse o título maior, mas temos um calendário cheio. Temos a Copa do Nordeste, a Série A e a Liberadores. O Fortaleza nunca tinha jogado uma competição internacional, ou a jogar nesta gestão. Agora, estamos na terceira Libertadores. Temos de saber viver tudo isso, valorizar, é um processo até chegar a uma conquista maior.

Há planos para a construção da casa própria?

Hoje, não. O investimento para um estádio próprio é muito alto, o custo de manutenção é ainda maior. Desconheço arena no Brasil que se pague. É uma conta muito simples de entender. Qualquer grande espaço tem de ser ocupado 250 ou 350 dias por ano. Não tem como um estádio de futebol ter 350 jogos por ano. Vai ocupar 50, vai ter show e outras atividades. É muito difícil essa conta fechar. Jogamos em um estádio excelente, para 63 mil pessoas, com tudo que se tem, um estádio com seis jogos de Copa do Mundo. Nossa casa é o Castelão.

Começaram as negociações para a renovação com o técnico Vojvoda?

Ainda não, mas ele sabe do nosso desejo. Na hora certa, a gente vai conversar.

*O repórter viajou a convite do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC)

Victor Parrini
postado em 26/03/2025 06:00
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