FIM DE SEMANA

Sergio Leo: "Você tem fome de quê?"

Leia a crônica do jornalista Sergio Leo, publicada nesta sexta-feira (9/5), no caderno Divirta-se Mais

"Pode ser macarrão? É mais rápido..." - (crédito: kleber sales)

— Da Lady Gaga, você viu? Me pareceu emocionada, mas meio triste... E pela primeira vez prestei atenção nas letras, falando de cair num abismo sem fundo, romances doentios, doença e sofrimentos...

— Nem vem. Ela tem fibromialgia, tem doença autoimune, de vez em quando cai em crises, mas se recuperou; e o que todo mundo vê, nela, é uma mensagem positiva, de se aceitar como é. Ela é uma inspiração! Agora, vem cá, você não disse que ia fazer o almoço, hoje?

— Não sei, toda aquela coreografia de zumbis, o tom meio dark do figurino... Tem muito a ver com esse banzo que a gente anda sentindo, esse noticiário cheio de distopias, de governantes bizarros, economias em crise, planeta ameaçado, retrocesso, desencanto, que coisa, que tristeza!

— E a fome, não esqueça a fome. Você vai mesmo fazer o almoço, hoje ou não?

— Você olha as novelas: nem o núcleo humorístico desses programas resiste ao mau humor. E a sensação de fim de mundo? Os historiadores começaram a rever a teoria, não dá mais para falar na história da humanidade sem pensar em uma coisa maior, as ameaças na existência do planeta...

— Sem esquecer que temos de comer todo dia...

— Pois é, estava lendo sobre esse lance; sabe que a Hanna Arendt até falava disso? Ela fazia diferença entre o "labor", essa atividade que o corpo faz para nos manter vivos, no dia a dia, e o "trabalho", que a gente executa e deixa marcas, sobrevive à nossa própria existência... Não há trabalho que não seja político, sabia? E pensar nos outros, deixar de lado esse imediatismo consumista...

— Consumo... Já decidiu o que vamos almoçar, por falar nisso?

— ... isso foi bem bacana no show; estava lendo um tremendo intelectual indiano que citava esse negócio da Hannah Arendt; e, você viu a turma toda delirando lá em Copacabana? Era festa, mas não deixava de ser uma bruta manifestação política, engajada, de inconformismo. Até recuperar a bandeira e a camisa verde-amarela para todo mundo, para a turma LGBT atacada pelo conservadorismo que se diz patriota... Muito bacana. E olha que detesto esses espetáculos com gente desafinada berrando ao lado, no nosso ouvido!

— Eu não gosto é de ficar sem almoço. Está escutando? Tenho de falar mais alto?

— Lembro quando o Reco do Bandolim começava todo espetáculo no Clube do Choro avisando à plateia que aquilo era para se ouvir com atenção; e a turma respeitava. Ainda bem que deram uma turbinada no sistema de som por lá, a qualidade anda tão boa que mesmo com gente cantando com os músicos do palco, hoje, a gente consegue ouvir bem os instrumentistas, muito bom, isso....

— E ouvir a voz aqui, do seu lado, seu sistema de som consegue? Al-mo-ço. Quer que eu cante, como numa ópera? Prefere em dó maior, ré menor, mimimiiii...?

— Tá bom! Tá bom! Já Entendi, já entendi.

— Afinal!

— Pode ser macarrão? É mais rápido...

postado em 09/05/2025 12:28 / atualizado em 09/05/2025 12:58
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