
Quando soube que Juscelino Kubitschek iria adiante nos planos de construir a nova capital no interior do Brasil, Assis Chateaubriand, que naquela década de 1950 havia fundado o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e inaugurado a TV Tupi, garantiu ao então presidente que daria a Brasília um jornal. Dito e feito: a pedra fundamental do Correio Braziliense foi lançada em 1959 e o jornal, inaugurado junto com a capital, em 1960. É um pouco dessa história, mas também, da trajetória de Chatô, que trata a exposição Assis Chateaubriand — Quem não ousa, não vence, em cartaz no Centro de Convenções Ulysses Guimarães para acompanhar o musical Chatô & os Diários Associados — 100 anos de paixão, hoje e quarta-feira.
Em um conjunto de 20 painéis, a mostra acompanha vários aspectos da vida de Assis Chateaubriand, com uma linha do tempo e ênfase, sobretudo, nas diversas campanhas realizadas em nome do desenvolvimento brasileiro. "Ele tinha um olhar muito geral do Brasil. Poucos eram assim naquela época. Era uma visão muito ampla do país e, ao mesmo tempo, profunda. Era uma pessoa múltipla, tinha várias facetas, várias atuações", explica Cilene Vieira, curadora e gerente do Cedoc do Correio Braziliense.
Entre as campanhas empreendidas por Chateaubriand, algumas ganharam muito destaque, como a que levou à fundação do Masp, na qual ele fez a elite contribuir com boa parte do acervo da instituição. Mas há outras, menos conhecidas, como a da puericultura, que ajudou a reduzir a mortalidade infantil, e a dos aeroclubes distribuídos pelo interior do país com escolas de formação de pilotos. "Essa parte da exposição é a tentativa de mostrar a riqueza das atuações dele. Com essas campanhas, ele apresentou resultados palpáveis que estão registrados na história", explica Cilene.
Outra parte da exposição traz a história do Correio e faz uma ligação das campanhas de Chateaubriand com aquelas empreendidas pelo jornal ao longo do tempo. "O Correio fez campanhas memoráveis", lembra Cilene. "Se posicionou e continua se posicionando em alguns temas como paz no trânsito, contra o racismo, contra a violência contra a mulher, pela defesa do fundo constitucional. São campanhas que existem porque fazem parte desse DNA lançado nas campanhas de Chateaubriand."
A exposição traz também a história da gênese do Correio, desde o encontro de Chateaubriand com JK até o desenvolvimento de projetos gráficos com reproduções das páginas do jornal que acabaram laureadas em importantes prêmios de design gráfico. "É uma exposição dividida em duas partes, a primeira para falar de Chateaubriand, para as pessoas conhecerem outros fatos da vida dele", explica Cilene Vieira. "A segunda é uma continuação para falar do Diários Associados DF."
Na mostra, o público descobre que tudo nasceu de um desafio, quando Chateaubriand era embaixador do Brasil na Inglaterra. "Se o senhor inaugurar mesmo Brasília, em 21 de abril de 1960, como está prometendo, pode saber que nesse dia lá estará um jornal dos Diários Associados", disse Chatô, em um encontro com JK. Ele não era um dos entusiastas da nova capital e até criticava o projeto, mas se deslumbrou ao sobrevoar Brasília ainda em obras. A escolha do nome do jornal da nova capital foi uma homenagem ao primeiro jornal brasileiro, que era editado em Londres por Hipólito José da Costa, no início do século 19.
A partir do anúncio de Chatô, João Calmon e Edilson Varela, então diretores dos Diários Associados e que aparecem em uma foto no local onde seria erguido o prédio do jornal, começaram a arrecadar fundos para a empresa. No pacote estava também uma televisão, a TV Brasília, cuja sede seria construída próxima ao que viria a ser a W3. Faltavam 100 dias para a inauguração da capital, quando teve início a obra para os dois primeiros órgãos de comunicação da cidade. O Correio Braziliense ficaria no Setor de Indústrias Gráficas (SIG) e uma das imagens históricas mostra a placa onde seria a construção no meio do Cerrado vazio. Tanto o jornal quanto a tevê começaram a funcionar em 20 de abril de 1960. A primeira edição do jornal no dia seguinte contou com 96 páginas e uma impressão de 30 mil exemplares. A inauguração da capital foi transmitida pela TV Brasília para Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.
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