
A revoltosa amálgama entre a música extrema e as vivências latino-americanas inspiram as apresentações que acontecem nesta quarta-feira (23/8), a partir das 19h, na casa Toinha Brasil Show. A infame banda Brujeria, formada por músicos de origem mexicana, celebra 30 anos do disco Matando güeros nesta turnê que a por Brasília, com show de abertura do projeto carioca Gangrena Gasosa, conhecido pela temática umbandista e crítica à sociedade brasileira.
Sob máscaras e pseudônimos, o Brujeria nasce no fim dos anos 1980, em Tijuana, como uma afronta ao discurso anti-imigração dos EUA, ao fenômeno do pânico satânico e às operações anti-drogas realizadas pelo FBI por toda a América Latina. Músicos de alto calibre do underground, já oriundos de projetos bem sucedidos, se uniram num retorno às raízes mexicanas, de maneira intencionalmente escrachada, agressiva, irônica, provocadora e cercada de folclore.
Segundo as histórias, inventadas pelos próprios artistas, o grupo seria formado por membros de cartéis fugitivos da justiça, por isso protegem a identidade com bandanas no rosto e pseudônimos como Brujo, Hongo e El Criminal. As letras, todas em espanhol, consistem na sua maior parte em ameaças de vingança por toda a opressão sofrida pela comunidade latino-americana ao longo dos séculos.
O disco Matando güeros, de 1993, foi o primeiro estouro do grupo, responsável também pelas primeiras polêmicas. “Foi um sucesso”, diz Juan Brujo, vocalista e líder da banda. “Tanto que acabou proibido em 22 países no dia em que foi colocado à venda”, complementa. O boicote das lojas de discos, que afetou até outros lançamentos da mesma gravadora, foi causado pela capa explícita do disco, vinda de um jornal sensacionalista, que mostrava uma cabeça decapitada. O título do lançamento, também ousado, ressalta o sentimento de vingança contra os güeros, gíria mexicana para loiros, em referência à branquitude. “O disco é sobre um mexicano vivendo nos EUA, onde não te querem e onde tantos te odeiam”.
Responsável por muitos estereótipos negativos associados à comunidade latino-americana, o narcotráfico é um dos alvos mais frequentes das sátiras feitas pela banda. Além de consistir em uma crítica à guerra às drogas conduzida pelos EUA, também reside nesse deboche um apelo pela descriminalização da maconha. Para Juan Brujo, o que falta para o STF legalizar o consumo no Brasil é uma maior intimidade com a planta. “Que acendam um baseado e percebam a maravilha que é a maconha”, brada. Uma mas músicas mais famosas do Brujeria é Marijuana, uma paródia canábica do hit Macarena.
A mensagem propagada pela banda, no entanto, mesmo composta por sátiras, já rendeu complicações na justiça para os membros. “Hoje quem mais nos odeia são os Trumpistas”, marca Brujo. Em 2016, o grupo lançou o single Viva presidente Trump!, com críticas direcionadas ao empresário e ex-chefe de Estado dos EUA, que agora corre o risco de ser preso por uma série de denúncias relacionadas à invasão do Capitólio. “Trump mandou seus capangas do serviço secreto à minha casa para falar comigo sobre umas músicas do Brujeria. Chegaram na casa da minha mãe com armas e coletes a prova de balas, aí ficamos conversando sobre música e férias em Guantánamo”, brinca.
Brujo enxerga na música uma ferramenta poderosa de combate à expansão do fascismo pelo mundo. “Temos que cantar sobre os odiosos do mundo para que todos vejam quem são e o que fazem para espalhar seu ódio pelo planeta”, destaca. No entanto, ainda revela que, para isso, é necessária mais união por parte da música extrema no Sul Global. Para o dia 15 de setembro, a banda programa o lançamento de mais um disco de estúdio, sob o nome Esto es Brujeria.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:


Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.