
Tharsis Victor Pires Campos foi o penúltimo de oito irmãos que cresceram numa família unida, que gostava de se reunir à mesa, na cidade de Catalão (GO), distante 300 quilômetros de Brasília. Foi o escolhido para herdar o nome do pai, Tharsis Campos, um advogado que estava sempre disposto a ajudar nas causas de quem não tinha condições de pagar.
Tharsis ou a infância na casa com quintal e alpendres, com fogão a lenha, onde sua mãe, Georgina, fazia biscoitos, doces e o famoso pudim de laranja. Ele era um dos mais quietos dos irmãos, mas gostava de sair para pescar à noite na fazenda de seu avô, deixando seus pais e sete irmãos à sua espera.
Foi para Belo Horizonte na década de 1970 para concluir o segundo grau e formar-se em engenharia elétrica pela UFMG. Cresceu numa família em que os filhos mais velhos ajudavam a financiar os estudos dos mais novos. Foi assim que todos os irmãos se formaram em universidades e tiveram uma boa profissão: professora, funcionária do Itamaraty, médico, advogado e engenheiros.
Durante a faculdade, Tharsis conheceu Ana Maria Fonseca, com quem namorou e depois se casou assim que chegou a Brasília em 1971. Na nova capital, ele ingressou na antiga Telebrasilia, onde trabalhou até a aposentadoria. Teve toda a sua carreira profissional desenvolvida na empresa na área de comunicações.
Tharsis foi um homem aficcionado por tecnologia, por música, perfeccionista, íntegro, rigoroso consigo mesmo, mas acima de tudo família. A felicidade era ficar em casa, na frente do computador, cercado pela mulher, Ana Maria, oficial de chancelaria do Itamaraty, e pelos filhos, netos e bisnetos. Adorava ouvir Cat Stevens, Bob Dylan, Elvis Presley e música country.
A herança do nome que recebeu do pai, o engenheiro eletricista reou para o caçula, que a família chama de Tharsico — ele tem também um sobrinho com o mesmo nome. O casal teve quatro filhos, Alexandre, Ana Lúcia, Ricardo e Tharsis, oito netos e dois bisnetos. Um terceiro está a caminho.
Morador da Asa Sul, criou seus quatro filhos e em 2007 mudou-se temporariamente com sua esposa para Buenos Aires. Em 2009, retornou a Brasília e consolidou a família com a chegada dos netos e bisnetos. "Pai muito dedicado à família, sempre preocupado com os bons modos, a formação educacional, profissional e a saúde dos filhos. Gostava de ficar em casa, acompanhar noticiários e esportes. Tímido, o seu jeito de falar 'eu te amo' era estando sempre ao lado de sua esposa, agindo sempre de forma paternal com seus filhos", afirma o filho Ricardo.
O filho mais velho, Alexandre, ressalta que o pai prezava muito a honestidade e a integridade e tinha bom humor. "Era rígido, até consigo mesmo. Pessoa simples, pacata, caseira e gostava de fazer piadinhas", diz. A neta Cynthia conta que ele chamava a bisneta Liz de "Liz Taylor".
Sua ligação com a tecnologia começou cedo. Teve o primeiro computador ainda de fita cassete. Não à toa, três dos quatro filhos seguiram o caminho da computação. "Perfeccionista, sabia que tinha de se conformar com o bom, mas sempre queria o ótimo", descreve a esposa, Ana Maria.
Ela foi seu grande amor e companheira de vida. ou os últimos 99 dias ao lado do marido na UTI do Hospital Sirio-Libanês. Os cuidados incluíam até mesmo ligar o som para que o marido pudesse ouvir as músicas preferidas. Em alguns momentos, ele dava sinais de que estava presente ao se emocionar com as canções. Tharsis teve, em novembro, um derrame cerebral e, em decorrência de complicações, morreu nesta terça-feira (25/2), aos 80 anos. Deixa um legado importante: união da família, amor e companheirismo.
O velório será nesta quarta-feira (26/2), das 8h às 10h, na Capela 1 do Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. Depois, o corpo segue para Catalão e será enterrado no Cemitério Municipal, onde descansam seus pais e irmãos.