
Professora da rede privada de ensino do Distrito Federal, Bianca Moreira Carneiro, 43 anos, não vê as filhas pequenas desde abril de 2022. As duas meninas gêmeas, de 4 anos à época, foram ar a Páscoa com o pai, que, sem autorização da mãe, levou-as para o Líbano. Uma decisão do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), determinou a busca e apreensão das menores. No entanto, a execução da decisão é inviabilizada pelo fato de o Líbano não fazer parte da Convenção de Haia.
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Bianca e o ex-marido firmaram união estável em 2017. No ano seguinte, nasceram as duas meninas. Em 2021, a professora decidiu se casar no civil com o libanês. “O casamento era preciso para ele conseguir registrar as meninas no país dele. Eu achei justo, porque eu também ia querer registrar minhas filhas no Brasil se eu fosse uma estrangeira em outro país”, lembra Carneiro.
A professora relata que, ao longo do relacionamento, também ou por situações de abuso. “Ele nunca me bateu, mas me agredia verbalmente e psicologicamente, com temperamento explosivo”, conta. O divórcio veio em fevereiro de 2022, poucos meses antes das meninas irem para o Líbano. “Nunca imaginei que ele faria isso”, lamenta a mãe.
A viagem
Ao deixar as filhas arem a Páscoa com o pai, Bianca não imaginava que elas seriam levadas para o Líbano, manobra que só foi possível porque havia uma procuração mútua assinada pelos dois em 2021 que permitia que apenas um dos genitores emitisse os aportes das gêmeas. No aporte também constaria uma observação permitindo que as meninas viajassem para fora do país com apenas um dos pais. A do documento foi motivada pelo adoecimento do avô paterno das gêmeas, que ficou em estado grave após contrair covid-19, naquele ano.
"No final das contas, o pai teve uma melhora e a gente acabou não saindo do Brasil. Como a gente desistiu da viagem, os aportes acabaram não sendo emitidos. Não foram dadas nem as entradas", recorda Bianca. Foi na Páscoa de 2022, quando já estavam separados, um dia após as meninas terem sido pegas pelo pai para ar o feriado juntos, que ela foi surpreendida, via ligação de vídeo, com a notícia de que as duas meninas já estavam no Líbano.
"Eu descobri que não só ele tinha emitido aporte de cada uma das meninas, como também tinha revogado a procuração. Ele não saiu de forma ilegal, mas na procuração constava que elas podiam viajar desacompanhadas de um dos pais desde que houvesse uma agem de retorno emitida. E essa agem estava emitida para o dia 21 de junho de 2022", detalha a professora, que destaca que desde essa data, a permanência do ex-marido no Líbano é ilegal.
Distância
Depois que as filhas aram a morar no país do Oriente Médio, Bianca tem tido contatos esporádicos com as garotas, ando de três a quatro meses sem ter notícias delas. O pai a bloqueou de todos os contatos que pudessem ser canal entre ela e as filhas, fazendo com que a ela seja obrigada a falar com ele para falar com as meninas.
Há um tempo vivendo fora do Brasil e em uma fase da vida em que ainda se aprende a falar, as gêmeas acabaram parando de falar português. Bianca tem percebido que o pai tem praticado alienação parental com as filhas, irregularidade que consiste na interferência psicológica na criança ou adolescente promovida por um dos genitores ou por quem detenha a guarda, que prejudica a formação dos laços afetivos com a outra parte genitora ou seus familiares.
No perfil @maternidade_roubada, no Instagram, Bianca Carneiro conta toda a história de como as filhas foram parar no Líbano para os seguidores. “Um pedido de socorro”, descreve a bio da página.
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