LEGADO

Sebastião Salgado: um defensor da Amazônia

Reconhecido pela atuação em prol do meio ambiente, o fotógrafo teve uma relação bem próxima com o bioma brasileiro

O fotógrafo documentarista brasileiro Sebastião Salgado posa para uma foto na pré-estreia de sua exposição Amazônia, no California Science Center, em 19 de outubro de 2022       -  (crédito: MARIO TAMA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)
O fotógrafo documentarista brasileiro Sebastião Salgado posa para uma foto na pré-estreia de sua exposição Amazônia, no California Science Center, em 19 de outubro de 2022 - (crédito: MARIO TAMA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)

Sebastião Salgado, um dos maiores fotógrafos do mundo, morreu nesta sexta-feira (23/5), aos 81 anos. Reconhecido pela atuação em prol do meio ambiente, o brasileiro teve uma relação bem próxima com a Amazônia. Inclusive, uma das principais exposição dele leva o nome do bioma brasileiro.

Lançada em 2022, no Sesc Pompeia, em São Paulo, Amazônia é resultado de sete anos de imersões fotográficas de Sebastião na Amazônia brasileira, com cerca de 200 imagens. As imagens revelam a floresta, os rios, as montanhas e a vida de comunidades indígenas.

  • Xamã yanomami em ritual durante a subida para o Pico da Neblina, no Amazonas, em 2014
    Xamã yanomami em ritual durante a subida para o Pico da Neblina, no Amazonas, em 2014 Sebastião Salgado
  • Lançada em 2022, no Sesc Pompeia, em São Paulo,
    Lançada em 2022, no Sesc Pompeia, em São Paulo, "Amazônia" é resultado de sete anos de imersões fotográficas de Sebastião na Amazônia brasileira, com cerca de 200 imagens MARIO TAMA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
  • As imagens revelam a floresta, os rios, as montanhas e a vida de comunidades indígenas
    As imagens revelam a floresta, os rios, as montanhas e a vida de comunidades indígenas Foto: Sebastião Salgado
  • Em entrevista ao Correio, em 2022, Sebastião contou que trabalhou com várias etnias da Amazônia
    Em entrevista ao Correio, em 2022, Sebastião contou que trabalhou com várias etnias da Amazônia Foto: Sebastião Salgado
  • Sebastião Salgado defendia que o debate sobre o futuro da floresta deve ser feito com a participação de todos no planeta, junto com as organizações indígenas
    Sebastião Salgado defendia que o debate sobre o futuro da floresta deve ser feito com a participação de todos no planeta, junto com as organizações indígenas Foto: Sebastião Salgado
  • Para além da devastação da Amazônia, Sebastião Salgado sempre quis mostrar a beleza e a diversidade do bioma nas fotografias
    Para além da devastação da Amazônia, Sebastião Salgado sempre quis mostrar a beleza e a diversidade do bioma nas fotografias Foto: Sebastião Salgado
  • "A opção que fizemos foi essa, de apresentar a Amazônia viva no sentido de que as pessoas compreendam o que é e que precisamos perseverar", afirmou Sebastião Salgado, em 2022 Foto: Sebastião Salgado
  • Sebastião Salgado pesquisou a Amazônia por mais de 40 anos
    Sebastião Salgado pesquisou a Amazônia por mais de 40 anos Divulgação/Sesc Pompeia
  • Na exposição 'Amazônia' há fotos de 1998, do início do ano 2000, em um total de 48 viagens
    Na exposição 'Amazônia' há fotos de 1998, do início do ano 2000, em um total de 48 viagens Divulgação/Sesc Pompeia

Sebastião Salgado defendia que o debate sobre o futuro da floresta deve ser feito com a participação de todos no planeta, junto com as organizações indígenas. O fotógrafo pesquisou a Amazônia por mais de 40 anos.

  • Serra Pelada, Brasil
    Serra Pelada, Brasil Acervo Sebastião Salgado
  • São Paulo, Brasil: Bebês abandonados brincam no telhado de um centro da FEBEM (Fundação de Bem-Estar da Criança)
    São Paulo, Brasil: Bebês abandonados brincam no telhado de um centro da FEBEM (Fundação de Bem-Estar da Criança) Acervo Sebastião Salgado
  • As brigadas de corte de açúcar trabalham em regiões e campos onde as máquinas são impraticáveis. Mais de um terço da produção cubana é cortada manualmente, e os trabalhadores recebem bônus especiais.
    As brigadas de corte de açúcar trabalham em regiões e campos onde as máquinas são impraticáveis. Mais de um terço da produção cubana é cortada manualmente, e os trabalhadores recebem bônus especiais. Acervo Sebastião Salgado
  • Índia - Trabalhadores contratados pelos proprietários dos caminhões carregam os caminhões com carvão, um trabalho sujo e exaustivo que paga apenas vinte e duas rúpias (US$ 1,30) por dia.
    Índia - Trabalhadores contratados pelos proprietários dos caminhões carregam os caminhões com carvão, um trabalho sujo e exaustivo que paga apenas vinte e duas rúpias (US$ 1,30) por dia. Acervo Sebastião Salgado
  • Serra Pelada, Brasil
    Serra Pelada, Brasil Acervo Sebastião Salgado
  • Serra Pelada, Brasil
    Serra Pelada, Brasil Acervo Sebastião Salgado
  • Serra Pelada, Brasil
    Serra Pelada, Brasil Acervo Sebastião Salgado
  • Trabalhadores saindo da mina de estanho
    Trabalhadores saindo da mina de estanho "Século XX", Oruro, Bolívia Acervo Sebastião Salgado
  • Durante a cerimônia de sepultamento de uma criança, Sertão da Paraíba, Brasil
    Durante a cerimônia de sepultamento de uma criança, Sertão da Paraíba, Brasil Acervo Sebastião Salgado
  • Um casamento no
    Um casamento no "Razo de Catarina", Sertão da Bahia, Brasil Acervo Sebastião Salgado
  • Um casamento no
    Um casamento no "Razo de Catarina", Sertão da Bahia, Brasil Acervo Sebastião Salgado
  • Uma oração de agradecimento ao deus Mixe, Kioga, Oaxaca, México
    Uma oração de agradecimento ao deus Mixe, Kioga, Oaxaca, México Acervo Sebastião Salgado
  • Uma visita médica, Equador
    Uma visita médica, Equador Acervo Sebastião Salgado
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Sebastião Salgado
Church Gate é a estação terminal da Ferrovia Ocidental, construída pelos britânicos; o sistema ferroviário cobre grande parte da Índia. Os trens são notórios por sua perigosa superlotação.
    Sebastião Salgado Church Gate é a estação terminal da Ferrovia Ocidental, construída pelos britânicos; o sistema ferroviário cobre grande parte da Índia. Os trens são notórios por sua perigosa superlotação. Acervo Sebastião Salgado
  • Trabalhadores colocam uma nova cabeça de poço em um poço de petróleo que foi danificado por explosivos iraquianos
    Trabalhadores colocam uma nova cabeça de poço em um poço de petróleo que foi danificado por explosivos iraquianos Acervo Sebastião Salgado
  • Serra Pelada, Brasil
    Serra Pelada, Brasil Acervo Sebastião Salgado

Em entrevista ao Correio, em 2022, Sebastião contou que trabalhou com várias etnias da Amazônia e percebeu o avanço da destruição da floresta.

"O bioma amazônico, principalmente no governo atual (Bolsonaro), sofre total ameaça. A primeira coisa que este governo fez foi tirar os filtros de proteção. O Ibama era um grande filtro de proteção, que verificava, dava multas. Foi eliminado para permitir a destruição. O segundo filtro foi a Funai, que sempre foi dirigida por cientistas, sempre foi organizada e funcionou na mão de sertanistas, de sociólogos, de antropólogos. A Funai hoje é dirigida por um delegado de polícia e serve ao agronegócio mais do que às comunidades. A Funai ou a ser o inimigo das comunidades. Isso permitiu a violação extrema do bioma e das comunidades indígena", disse o fotógrafo.

Para além da devastação da Amazônia, Sebastião Salgado sempre quis mostrar a beleza e a diversidade do bioma nas fotografias. "A opção que fizemos foi essa, de apresentar a Amazônia viva no sentido de que as pessoas compreendam o que é e que precisamos perseverar. É a maior concentração de riquezas do mundo", defendeu o fotógrafo.

"Eu sei porque o custo para recuperar um hectare é enorme. E quanto custa a destruição de um hectare da floresta amazônica? É o preço que vamos ter que colocar para refazer. Custa uma fortuna. Uma fazenda jamais vai gerar riqueza suficiente para pagar a destruição que fez. Se tivéssemos um projeto de desenvolvimento sustentável, para tirar um projeto turístico, com distribuição de cooperativas e comércio justo, íamos trazer um fluxo maior de dinheiro do que entra hoje. Com as plantas medicinais, poderíamos revolucionar a indústria farmacêutica. Mas isso é uma decisão de governo, uma decisão de levar a Amazônia para um projeto sustentável", acrescentou Sebastião, ao Correio.

Morte do mestre da fotografia

A morte de Sebastião Salgado foi confirmada pelo Instituto Terra, organização fundada por ele e a mulher, Lélia Deluiz Wanick Salgado. O fotógrafo enfrentava problemas de saúde decorrente de malária, adquirida nos anos 1990.

"Semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", disse o Instituto Terra.

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postado em 23/05/2025 13:22 / atualizado em 23/05/2025 14:03
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